domingo, 15 de novembro de 2015

CANÔNICOS - APÓCRIFOS E PSEUDO EPÍGRAFOS

Escriba Valdemir

É bom deixarmos bem claro que pode um livro ser denominado de apócrifo e o fato de ser ou ter sido "escondido" pode não ter nada a ver com religião. Poderia bem ser algo cultural. Mas o fato é que a religião sempre aparece porque as principais listas de livros proibidos que chamam mais atenção datam da Idade Média e temos mais conhecimento de livros proibidos no ocidente e a Igreja Cristã, representada nesta época pela Católica, tinha grande domínio sobre tudo.
É curioso, por exemplo, o caso do livro que conta "As Mil e Uma Noites", escrito originalmente em árabe; na Idade Média podia ser traduzido apenas para o latim por ser considerado um livro pornográfico, cujas estórias mais ingênuas seriam as que conhecemos e que, na verdade, hoje são estórias infantis, como "Ali Babá e os Quarenta Ladrões". De certa forma este livro era "oculto" porque somente eruditos liam e escreviam em latim.
Faz parte da fé de muitas religiões crerem que há livros ou textos inspirados divinamente e não é o caso somente do Cristianismo. Os Cristãos, portanto, crêem que uma Revelação Especial lhes foi dada e muitas das palavras ditas pelos profetas, e outros, foram escritas, às vezes até mesmo bem posteriormente. Apesar de que não podemos de maneira alguma citar o Cristianismo como o único a usar tais conceitos de apócrifos, de liberados ou, ainda, de inspirados, os termos mais comuns que hoje se emprestam a outras ciências, foram usados pelos teólogos, exegetas e linguístas Cristãos, daí ser necessário explicar como estes termos surgiram dentro do Cristianismo.
Vários termos deveriam ser melhor entendidos para que possamos avançar em nosso assunto. Um deles é a palavra "canon" que significa "vara", instrumento usado para medir, como se medem os centímetros de tecidos, com uma "vara" de um metro. Este termo ficou sendo usado como se dissesse: "Este livro passa pela medida que o qualifica como inspirado por Deus".
Outro termo é "inspirado", que significava para os pais da Igreja dos primeiros séculos da era cristã, que havia sido Deus que transmitira, seja de qual forma foi, o conteúdo de tal livro. Esta metodologia divina variava, segundo crêem os Cristãos, desde a iluminação da mente de forma que o autor humano fizesse a pesquisa, a busca de fontes, a escolha de material e, enfim, a idealização e escrita do texto, passando por outras metodologias como profecias extáticas (de êxtase, porque "estático" com "s" refere-se ao que está parado) entregues num tipo de transe espiritual, até mesmo escritas feitas pela própria mão de Deus como as tábuas dos dez mandamentos, ou escritas nas paredes feitas por anjos, como no caso do julgamento divino do rei Assuero. Esta inspiração poderia ser apenas das idéias, não levando em conta os detalhes textuais e gramaticais, ou plenária, isto é, todas as palavras teriam sido literalmente inspiradas.
Continuemos com alguns termos: "copista" ou "escriba" são palavras usadas para os secretários que copiavam os textos já existentes, editando assim outros volumes. Já os "amanuenses" eram os secretários que escreviam o que o autor ditava, sendo de autoria apenas "das mãos" destes escribas. "Autógrafos" são os livros originais, a primeira cópia escrita pelo autor do livro, hoje desconhecidos. Existiam ainda os "tradutores". A Septuaginta traz este nome porque, trezentos anos antes de Cristo, foi dada a setenta tradutores a tarefa de traduzir o Antigo Testamento para o grego, sendo o texto chamado então de "Bíblia dos Setenta", ou "Septuaginta".
Uma pergunta que surge na mente de muitos é a seguinte: Como pode ser explicado racionalmente o método de escolha de livros que fossem considerados sacros e, obviamente, também o contrário? A Igreja Cristã, nos primeiros séculos de nossa era, principalmente, usava várias "medidas". Primeiramente o livro em questão tinha uma história, uma tradição que havia passado de geração em geração; além disto, pesava o fato do livro estar sendo usado e aceito na maioria das Igrejas. As cópias dos livros eram feitas de forma cuidadosa e comparativa, existindo um zelo muito grande e isto depois veio a ser um ponto chave, com o passar dos séculos, pois os textos, muitos existentes apenas em museus, podem ser comparados para que a autoridade científica da maioria determine a leitura certa.
Outra inteligente pergunta está aqui: Qual é a explicação mais comum dos teólogos a respeito do valor dos livros apócrifos?
Seja considerando o lado religioso, seja cultural, o que temos de reconhecer é que qualquer livro acrescentará algo, mesmo que este "algo" seja reconhecer que tal coisa não se devia ter escrito! Por exemplo, muitos dos apocalipses não apenas são falsos do ponto de vista que não houve uma "revelação", mas foi invenção da mente de algum escritor brincalhão, como são falsos, às vezes no sentido de serem assinados por determinados "famosos", que nunca os escreveram. São estes chamados de "pseudo-epígrafos", ou "falsos escritos".
As diferenças textuais entre os manuscritos de um livro existem, até porque eram copiados à mão e muitas vezes os copistas cometiam erros.
Um exemplo que os teólogos consideram muito, de como os apócrifos ajudam, é no caso de narrativas históricas, pois muito se pode conhecer e acrescentar. Existe até mesmo uma diferença de aceitação de alguns livros pela Reforma e pela Igreja Católica. Muitos "pseudo-epígrafos" e apócrifos em geral o são para os dois lados. No entanto, os livros que estão editados a mais na versão da Bíblia católica são por estes denominados, não de apócrifos, como fazem os Reformados, mas de "deuterocanônicos", isto é, "outros canônicos".

FONTE:
https://pt.wikibooks.org/wiki/Livros_ap%C3%B3crifos/Reflex%C3%B5es_sobre_as_escolhas_de_livros_%22sagrados%22